Entre os principais desafios para a implementação da energia das marés estão o alto custo e a necessidade de investimentos públicos. (Foto: Envato Elements)
Mesmo abundante em energias renováveis, o Brasil pode se dar ao luxo de dispensar alternativas energéticas limpas e sustentáveis, como a energia das ondas ou das marés? É a maremotriz, ainda inexplorada ao longo dos 8 mil quilômetros do litoral brasileiro.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente
Protagonista global no processo de transição energética, o país ainda conta com esta opção de fonte natural, através de barragens ou turbinas submersas capazes de gerar eletricidade e, assim, consolidar ainda mais a matriz limpa, livre de combustíveis fósseis. O Brasil deve entrar mais tarde nesta tecnologia justamente pela abundância, mas investe em P&D.
O que é maremotriz?
É a energia renovável das ondas e marés obtida a partir do movimento das águas do mar e oceanos. Em barragens, a água é armazenada em diques nas marés altas e liberada nas marés baixas passando por turbinas que geram eletricidade. As turbinas aproveitam as correntes e também geram energia.
O professor Fernando Luiz Marcelo Antunes (foto), do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que há várias tecnologias para o aproveitamento do movimento das ondas do mar, mas considera que ainda é muito cedo para se falar em aproveitamento com investimentos da energia das ondas.
Ele cita as usinas-modelo da Escócia, Noruega, Suécia e Portugal que já mostraram, apenas como prova de conceito, que é possível a exploração da energia das ondas, mas que depende dos ventos.
“É mais uma forma de produção de energia elétrica dependente da sazonalidade, como é a solar e a eólica”, diz ele, destacando como vantagem o fato de ser renovável e não produzir CO² que causa o efeito estufa.
Entre os principais desafios para a implementação da energia das marés está o alto custo. “Há situações isoladas de prova de conceito no Brasil como foi a utilização do sistema desenvolvido pela COPPE em parceria com a empresa Tractbell no Porto do Pecém, no Ceará”, relembra.
Para ser viável, esta forma de energia requer investimentos públicos. Segundo o professor, quem investe para viabilizar tecnologias são os governos ou a população através de incentivos financeiros. “Uma empresa só investe se houver lucro”, sentencia.
Doutor em Engenharia Elétrica pela Loughborough University of Technology (Inglaterra), o professor Fernando Antunes faz questão de frisar que não se produz energia elétrica sem impacto ambiental nenhum. “Imagine uma barragem. O rio que circulava livremente passa a ter impedimento, acumulando água e impactando o ambiente, da mesma forma que o movimento das dunas”, exemplifica.
Pecém teve projeto-piloto
Ainda em 2009, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), através do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, escolheu o Ceará, precisamente na praia do Pecém, para sediar o primeiro projeto-piloto de uma usina de ondas integrada por duas turbinas. E até produziu eletricidade em 2012. O experimento virou memorando de entendimento para um estudo de viabilidade em 2021, fruto da parceria do governo cearense com a empresa sueco-israelense Eco Wave Power. O sonho de uma usina comercial, entretanto, não se realizou, pondo fim ao acordo em maio de 2022.
A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum (foto), concorda que é prematuro pensar em produção de energia elétrica a partir das ondas do mar por se tratar de uma tecnologia que ainda está nas universidades, no campo do P&D e inovação, o que requer tempo de pesquisa e projeto-piloto para, então, se tornar viável economicamente.
“A Noruega já produz comercialmente porque, diferentemente do Brasil, os países nórdicos estão tendo que lidar agora com a escassez de recursos renováveis para a produção de energia, para enfrentar a transição energética, por não terem alternativas”, observa.
A seu ver, o Brasil entra mais tarde nas novas tecnologias dada a abundância de recursos para a produção de energia, renovável ou fóssil. De fato, o Brasil começou os anos 2000 com 90% de hidrelétrica e 10% de termoelétrica na matriz elétrica. Iniciou os experimentos com eólica offshore em 2004, que hoje é a segunda fonte da matriz de grande porte. A solar começou a entrar a partir de 2015, depois que estava madura e competitiva e se tornou a terceira fonte de grande porte.
“Se não quisermos fazer mais nenhuma outra fonte de energia hoje, temos energia para muito tempo”, ilustra Elbia, para demonstrar que o Brasil está numa posição confortável neste sentido. Ela concorda, entretanto, que há um enorme potencial de produção de energia a partir das ondas do mar, mas com custo proibitivo. Segundo ela, custa em torno de R$ 1.500,00 por unidade de energia para fazer ondas do mar, ao passo que fica em R$ 300,00 produzir eólica onshore e offshore.
“Hoje ainda não faz sentido avançar nesta tecnologia, mas o Brasil não fecha os olhos para a inovação e se debruça em P&D para avançar num futuro razoavelmente distante”, afirma lembrando que há projetos em andamento em Pernambuco e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Temos Vento, Sol, Ondas e Resíduos Sólidos
Com um dos maiores índices de irradiação do País, Ceará lidera ranking de geração de energia solar