Vaidade e cuidados pessoais sustentam mercado de estética brasileiro

Por: Gladis Berlato | Em:
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O mercado global de estética, segundo relatório da consultoria Grand View Research, deve chegar a US$ 145 bilhões até 2030, crescendo quase 7% ao ano.

Não será por falta de vaidade feminina e masculina que o Brasil deixará de ser o quarto maior mercado consumidor do mundo, segundo acompanhamento da Associação Brasileira da Indústria da Higiene Pessoal (ABIHPEC). Ao contrário, 70% dos brasileiros dizem que usam produtos de beleza para se sentirem bem, o que reforça o avanço para a terceira colocação global, hoje ocupada pelo Japão, neste mercado liderado pelos Estados Unidos e China.


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O mercado global de estética, segundo relatório da consultoria Grand View Research, deve chegar a US$ 145 bilhões até 2030, crescendo quase 7% ao ano.

Projeções da Redirection International, especializada em fusões e aquisições, também mostram que o setor de beleza e cuidados pessoais no Brasil deve crescer 7% ao ano até 2027. O espectro é amplo, mas quando se pensa em perfumaria, cosméticos e higiene pessoal, a cifra movimentada é da ordem de US$ 27 bilhões, podendo alcançar os US$ 40 bilhões em dois anos. O fenômeno é relativamente recente e ganhou impulso na pandemia, no envelhecimento da população e na diversificação do público-alvo.

Trata-se de um mercado que não se resume a grandes marcas multinacionais, como P&G, L’Oreal e Unilever, ou as nacionais Boticário e Natura. Em seu entorno gravitam milhões de pequenos negócios. Sim. Milhões. Sob o olhar do Sebrae, por exemplo, 1,2 milhão de empresas foram formalizadas neste ano. Em 2014, somente de janeiro a setembro, em média, 700 micros, pequenas e médias iniciativas nasceram por dia.

Resultados mais naturais

A analista do Sebrae Nacional, Maria Consuelo Mello (foto), gestora da carteira setorial de Beleza e Bem-Estar, convive com o movimento continuado de crescimento. São cabeleireiras, manicures, pedicures, depiladores, massagistas, tatuadores e maquiladores que oficializam sua atividade como Microemprendedores Individuais (MEIs). Ela esclarece que o último dado consolidado é de 2024, mas que a realidade se mantém.

“É um setor com desempenho notável que acompanha a mudança de comportamento do consumidor”, atesta. Entre as maiores exigências do mercado estão produtos menos invasivos e agressivos, tratamentos com resultados mais naturais e sem intervenções cirúrgicas, a partir de inovações como laser, lifting e bioestimuladores, procedimentos envolvendo contorno facial, modelagem corporal e tratamentos capilares. 

Sustentabilidade

Consuelo Mello também destaca o avanço em produtos sustentáveis, a começar pelo desenvolvimento de embalagens degradáveis e reaproveitáveis, produtos multifuncionais, como batom e gloss num só invólucro, e que evitem testes com seres vivos.

Para ela, o futuro é promissor também pela diversidade e inclusão de pessoas no empreendedorismo, independente de gênero ou idade. A propósito, o Sebrae está empenhado na disseminação da Lei do Salão Parceiro, para apoiar o empreendedor a se formalizar e a adotar práticas cada vez mais sustentáveis, inclusive evitando o vínculo empregatício ao permitir a contratação de MEIs.

Falta fiscalização

Para a Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (Anesco), que conta com mais de 5000 profissionais associados, o Brasil se destaca no segmento da beleza e do bem-estar pelo perfil vaidoso e cuidadoso dos brasileiros, especialmente os do litoral. A presidente Márcia Costa Larica (foto), que também preside o Sindicato dos Esteticistas e Cosmetólogos do Rio de Janeiro, diz que o entrave deste segmento de enorme potencial está na falta de fiscalização da atividade e na responsabilização de cada categoria profissional.

“O fato gera insegurança e medo”, afirma Márcia Larica, defendendo a urgência na criação do Conselho Nacional de Esteticistas e Cosmetólogos, há muito esperado, e que somente em 2014 teve 15 projetos de lei rejeitados.

Diretora Comercial da Associação Nacional dos Sindicatos e Associações do Segmento da Indústria da Beleza e Similares do Brasil, ela entende que a atividade, legalizada desde 2018 mas não fiscalizada, tende a continuar crescendo com maior segurança, acolhendo, de maneira organizada e segura os atuais profissionais e os milhares de formandos que saem das faculdades.

Estética, saúde e bem-estar

Para a biotecnóloga Silmeri Bolognani (foto), CEO do Instituto Bolognani, o primeiro consultório farmacêutico legalizado no Brasil, o mercado de estética segue em crescimento acelerado, com aumento da demanda por procedimentos não cirúrgicos. Os destaques são os tratamentos para rejuvenescimento e melhora da qualidade da pele, como Lavieen e Ultraformer MPT, que promovem a regeneração sem a necessidade de cirurgia. Outra demanda recorrente é por tratamentos ortomoleculares para potencializar os resultados e prolongar a durabilidade dos procedimentos.

Embora historicamente as mulheres liderem a busca por melhorias, especialmente ligadas à menopausa, os homens estão mais atentos. “Percebo um aumento expressivo na procura masculina, principalmente por procedimentos como toxina botulínica, bioestimuladores de colágeno e harmonização facial”, informa, acrescentando a saúde capilar, tanto entre homens quanto mulheres, como outra preocupação.

Franquias de estética

Para Silmeri, o modelo de franquia tem se expandido rapidamente, impulsionado pela alta demanda por tratamentos estéticos e pela busca por negócios estruturados e inovadores. Áreas como harmonização facial, depilação a laser e rejuvenescimento lideram esse crescimento, com franquias investindo em tecnologia de ponta e padronização de serviços para atrair um público cada vez maior.

Para ela, o setor continuará crescendo, com foco cada vez maior na personalização dos tratamentos e em abordagens que combinem estética, saúde e bem-estar com o uso de tecnologias avançadas. Márcia também vislumbra avanço na busca por terapias integrativas associadas à estética, como a acupuntura estética e a homeopatia para melhora da pele e do envelhecimento.

Estética masculina

Ao perceber o potencial do segmento de estética masculina, o empreendedor cearense Miguel Andrade (foto) passou de franqueado a franqueador. “Na franquia de café onde atuei por quatro anos aprendi o que fazer e o que não fazer”, afirma.

Ele pesquisou o mercado de salões masculinos e há alguns dias inaugurou a Noblesse Barber Express, no Shopping Del Paseo, em Fortaleza. A barbearia express, que une rapidez com qualidade e custo mais acessível na comparação com salões tradicionais, já realizou mais de 600 atendimentos, onde o corte de cabelo representa 70% dos serviços.

“A barba é a maquilagem do homem”, ilustra ele, acrescentando como diferencial técnico e higiênico o uso de tecnologia de vapor quente de ozônio em substituição à toalha quente.

Noblesse Barber Express. (Foto: Divulgação)

Para ele, um grande avanço que trouxe segurança ao negócio de estética foi a chegada da Lei do Salão Parceiro, que permite a contratação de MEIs, evitando o vínculo com a CLT. No Noblesse, por exemplo, apenas a recepcionista é funcionária. Os cinco barbeiros são PJ que trabalham e ganham sob produção, incentivando a produtividade e ganhos mútuos.

Inteligência artificial na estética

Joaquim Araujo (foto), gerente de Marketing na Tulípia Cosméticos, vê o mercado em ascensão e analisa que a busca por procedimentos estéticos não invasivos é um reflexo de uma mudança na mentalidade do consumidor, que quer soluções rápidas, eficientes e com pouco ou nenhum tempo de recuperação.

A seu ver, o uso de equipamentos de última geração, como lasers para rejuvenescimento da pele, agora conta com a Inteligência Artificial como aliada para personalizar tratamentos e produtos.

A digitalização também tem sido um fator importante, com o aumento de plataformas online que oferecem consultas e orientações estéticas, de maneira mais acessível e personalizada.

Também para Joaquim Araujo um dos canais de crescimento do setor é pela via das franquias. Segundo ele, somente no segmento de saúde, beleza e bem-estar, em 2023, o aumento no número de franquias foi de 17,5%, o que reflete a força da demanda por serviços e produtos de beleza no Brasil.

A qualificação profissional, entretanto, continua sendo um fator crucial para o crescimento do setor, o que levou a empresa a criar o Tulipia Academy, que capacita profissionais da estética desde como fazer um protocolo específico até gerenciar um negócio.

Para o executivo, o futuro é promissor com a popularização de procedimentos estéticos não invasivos e dermocosméticos. Mas ele alerta que “as pessoas se tornarão cada vez mais exigentes, e as marcas precisarão adaptar-se rapidamente às novas necessidades”.

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