O mercado ótico brasileiro encerrou 2024 com faturamento 5,3% maior sobre 2023 (R$ 26,9 bilhões) e projeta crescer 7,2% neste ano. (Foto: Envato Elements)
Para quem opera com o desafiador mix envolvendo saúde e vaidade, o mercado ótico brasileiro convive com inovações constantes na cadeia de produção. Por conta disto, tem razões de sobra para comemorar: encerrou 2024 com faturamento 5,3% maior sobre 2023 (R$ 26,9 bilhões) e projeta crescer 7,2% neste ano.
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Considerando a expectativa da Associação Brasileira de Óticas (Abióptica) para a edição 2025 da Expo Óptica, que ocorreu em São Paulo, na última semana, mais de R$ 1 bilhão em negócios já estão garantidos para o ano apenas no evento, que concentra 95% das empresas fabricantes de armações e lentes, importadores, prestadores de serviço, produtores de maquinário e franqueadores. E o Nordeste marca presença.
No mundo, dados da OneSight EssilorLuxottica Foundation apontam que 2,7 bilhões de pessoas precisam de correção visual, e no Brasil, mais de 144 milhões têm algum problema de visão, o que dá a dimensão deste mercado.
Para Ambra Nobre Sinkoc (foto), diretora executiva da Abióptica e presidente da Expo Óptica, “o mercado ótico é uma combinação única de saúde, moda e tendências, envolvendo o mais importante sentido humano, o olhar”. Trata-se de um mercado multifacetado, integrado por mais de 72 mil óticas com um enorme potencial a ser explorado.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta de que 50% da população brasileira precisa de correção ocular, mas apenas 40 milhões usam óculos. O aumento da vida útil amplia naturalmente o tamanho deste mercado, junto com a crescente miopia infantil resultante da exposição excessiva às telas.
Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, cerca de 70% da população sofre algum tipo de desconforto visual recorrente pelo uso prolongado de computadores, laptops, tablets e celulares. “As grandes inovações desruptivas estão nas lentes”, assegura a presidente da Abióptica, exemplificando com o desenvolvimento de lentes da miopia.
A entidade se empenha na aprovação do projeto de lei que obriga a realização do exame de olhos como requisito para a matrícula escolar. Outro projeto (PL3550/2015) torna obrigatório o exame oftalmológico, inclusive na demissão, garantindo ao empregado deixar a empresa com visão saudável, da mesma forma que ingressou.
Outro campo altamente inovador é o de máquinas e equipamentos óticos que resulta em lentes ainda mais personalizadas para cada necessidade e onde a tecnologia Free Form desponta como um dos caminhos. A tecnologia da alemã Schneider permite produzir lentes com superfícies curvas que ampliam o campo de visão. “O setor está permanentemente alinhado com as tecnologias globais de ponta, sem gaps”, informa.
Com 200.000 empregados em 150 países, 650 operações e 18.000 lojas, a EssilorLuxottica (leia-se Ray-Ban, Oakley, Varilux e Óticas Carol), líder global no design, fabricação e distribuição de lentes oftálmicas, armações e óculos de sol. No Brasil, tem fábricas em Campinas (armações) e Manaus (lentes), centro de distribuição em Sumaré e 16 laboratórios, inclusive no Nordeste.
Um dos destaques é a Transitions® Gen S™, inovação em lentes fotossensíveis, que oferecem uma transição mais rápida entre os ambientes e uma proteção superior contra a luz azul e os raios UV. Mas também foram mostradas armações icônicas das marcas do portfólio e uma seção especial para instrumentos médicos voltados a profissionais de saúde ocular. A grande sensação é o Ray-Ban Meta, com recursos da inteligência artificial, que integrou funções digitais aos óculos, como música, fotos e vídeos, mas que ainda não está disponível no Brasil.
Para a gerente executiva de Armações, Mariana Pacheco, o Brasil tem relevância no grupo, inclusive com projetos próprios, como a armação flexível para crianças feita em peça única, a Miraflex. Em lentes, a gerente executiva Juliana Cepera destacou a Varilux XR, lente premium, cuja produção resultou do uso da Inteligência artificial. “Um avatar simulou os 100 mil movimentos diários rotineiros dos olhos para a definição do desenho da lente”, explicou. A tecnologia empregada pela empresa resultou em outro produto capaz de reduzir até 67% a progressão da miopia em crianças e adolescentes.
Armação é sinônimo de estilo em óculos para a Robsol, com fábricas na China e em Pouso Alegre, que faz quatro lançamentos anuais para garantir novidades e espaço nas óticas. Detentora das marcas Sabrina Satto, Carmen Vitti, John John, Fox, Ecko e Disney, cobre os mercados feminino, masculino e infantil. O gerente de Marketing, César Comunale, diz que a empresa é pioneira no uso do acetato nas plaquetas dos óculos para garantir leveza e conforto e aposta no mercado ótico de luxo, que deve crescer entre 7% e 10% no ano.
O alto luxo, o esporte e a tecnologia de ponta andam juntos na Kering e Maui Jim, integrantes do Protus Group com suas 30 marcas entre solar e receituário (Valentino, Balmain, Palm Angels, Dita Lantier), presentes em 1.702 pontos de venda. O gerente de Marketing, Brenno Bittar Bonani, destaca a preocupação crescente do mercado ótico com a proteção dos olhos, o que não é diferente no segmento em que atua. Titânio, fibra de nylon, cristal e acetatos são materiais nobres usados pelos mestres artesãos do grupo. A tecnologia da havaiana Maui Jim permitiu chegar aos óculos polarizados que quebram os pontos de luz, informa Marco Túlio, gerente comercial do grupo, que para aperfeiçoar suas linhas se inspira muito no mercado esportista que exige o máximo de conforto e segurança de óculos e armações.
Saúde ocupacional está no radar da japonesa Hoya Vision Care que entre as novidades mostrou o VisuRealMaster AI, um dispositivo para centralização de óculos, que faz medições automáticas e precisas, dispensando gabaritos ou repetição de fotos. Em um minuto as medidas são integradas ao sistema de pedidos, otimizando a rotina das óticas e reduzindo em dois dias a entrega dos óculos. Para o presidente Carlos Matos, “o compromisso é com o ecossistema da saúde visual, o que requer soluções inovadoras”.
A Rodenstock Brasil, subsidiária da multinacional alemã, há mais de 50 anos no país com fábrica no Rio de Janeiro e presente em 2000 óticas, lançou a nova tecnologia LayR, o antirreflexo que adiciona camadas multifuncionais às Lentes Biométricas Inteligentes B.I.G. NORM®️ com até 50% redução dos reflexos visíveis da lente e incorpora ainda camadas extras contra raios UV e luz azul nociva.
Outro destaque é o lançamento do “ColorMatic®️ X”, uma solução fotossensível que adapta automaticamente as lentes à incidência de raios UV e em sua nova versão evoluem para uma claridade completa a uma taxa até 54% mais rápida do que em sua geração anterior. “Um de nossos diferenciais é a riqueza do nosso banco de dados com medições de mais de 2,0 milhões de pessoas que levam a uma lente cada vez mais adequada”, afirma Hugo Mota, presidente da Rodenstock Brasil.
Referências globais
Itália – Design
Japão – Qualidade/acetato
China – Tecnologia
O mercado ótico brasileiro passa por um momento próspero para o empreendedorismo. A Óticas Diniz, 100% brasileira, fundada em São Luiz (Maranhão), é uma das expositoras da Expo Óptica que está investindo R$ 25 milhões direcionados a franqueados já integrados ao sistema e operações da rede e um modelo de negócio estruturado. São 1.118 lojas em 420 cidades.
“Queremos ampliar nossa presença em cidades menores e regiões ainda não atendidas”, afirma Claudia Valerio (foto), diretora de Operações e Expansão, cuja expectativa é fechar o ano com crescimento de 100%. “Nosso modelo de franchising é desenhado para reduzir riscos, incluindo análise de localização até treinamento contínuo, o que permite que novos empreendedores se estabeleçam em pontos com potenciais de consumo“, diz. Ela assegura ao franqueado um faturamento médio mensal de R$ 110 mil por loja e lucratividade entre 15% e 20%, num prazo de retorno do investimento entre 12 a 18 meses.
Outra nordestina presente na Expo Óptica 2025 é a Cattu, empresa independente de armações de óculos de Barra do Corda (Maranhão), cercada por reservas indígenas do povo Guajajara e Canela. O diferencial das coleções é justamente a inspiração na cultura dos povos originários do Brasil.
O diretor executivo, Esdras Negreiros, diz que as inovações estão no design e nos materiais como a fibra de celulose, material orgânico de alta resistência. “Nossa estratégia é avançar no nicho da crescente preservação da identidade cultural milenar, já pujante no exterior”, afirma. A empresa opera no mercado B2B e também com venda direta ao consumidor por meio de e-commerce.
Quem também utiliza recursos naturais é a HB Hot Buttered. Com fábrica em Itupeva (SP), produz armações em ecoblock a partir da mamona. Focada no segmento esportivo masculino, conta também com o clipon, sobrelente dobrável em material politech exclusivo da HB. A gerente de produtos, Natália Tosin, anunciou também a releitura do modelo Secret, que no passado, foi o campeão de vendas com mais de 2,0 milhões de peças.
A feira também trouxe novidades em lentes de contato através da Bausch Lomb, líder em lentes e soluções multiuso. O lançamento foi a Ultra One Day, de uso único diário, um hábito já consolidado no exterior. O produto incorpora tecnologias como a da Comfort Feel, que compensa qualquer desequilíbrio da lágrima natural por garantir 16h de hidratação. O processo de fabricação passa por dupla reação química para garantir melhor respiro das córneas a partir do silicone hidrogel.
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