Especialistas alertam que as mudanças climáticas são reais e muito presentes e requerem atitudes por parte das empresas. (Foto: Envato Elements)
Nas cidades, a destruição nos sistemas de infraestrutura com falta de luz, água e internet. No campo, a lavagem ou queimada das lavouras e das pastagens para agricultura e pecuária. Esta é a face mais visível das mudanças climáticas danosas que marcam presença cada vez mais constante no planeta e que afetam, também, a economia mundial devido ao aumento nos custos de produção.
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Estimativas do Fórum Econômico Mundial apontam que as mudanças climáticas custarão US$ 1,7 trilhão, podendo quase triplicar até 2050, quando a economia global poderá ser reduzida em 19% com impactos maiores sobre o Sul da Ásia e da África.
Felipe Vasconcelos (foto), sócio da Equus Capital, consultoria voltada, entre outras, a soluções em descarbonização, entende que as boas práticas ambientais passam por um momento de amadurecimento e não se prestam mais a modismos, até porque impactam diretamente nos negócios.
Ele alerta que as mudanças climáticas são reais e muito presentes e requerem atitudes por parte das empresas. As mudanças decorrentes dos desastres climáticos como o fogo em Los Angeles (EUA) e as enchentes em Porto Alegre (RS), já causam alterações nos negócios. As companhias americanas de seguros, por exemplo, se recusam a colocar propostas em algumas áreas em função de riscos incontroláveis.
Em contrapartida, no Brasil, o agronegócio – que nunca teve o hábito de contratar seguro-safra – acordou recentemente para a necessidade de segurar sua produção. Os prejuízos também alcançam o sistema de infraestrutura e, por consequência, todo o escoamento logístico.
Felipe Vasconcelos aborda, também, o que chama de “Efeito Trump” e a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Curioso, entretanto, é que mesmo assim dois terços dos EUA decidiram continuar no Acordo e parte das multinacionais americanas apenas retiraram de seus sites os compromissos ambientais envolvendo carbono neutro, mas se mantêm na prática por conta das exigências, em especial do mercado importador europeu.
A propósito, o sócio da Eqqus alerta que o Brasil, através do agronegócio, tem a oportunidade de avançar na produção verde, com vistas a agregar valor ao produto e neutralizar os custos adicionais provocados pela guerra de barreiras comerciais sobre as commodities nacionais com aumento de tarifas de importação. “É o nosso protecionismo verde na valorização da produção”, ilustra.
A seu ver, o grande desafio para os negócios brasileiros, notadamente industriais, está na redução de emissões de gases de efeito estufa. Ainda sem órgão regulador, o sistema de crédito de carbono, embora tenha lei aprovada e sancionada pela presidência da República, ainda está muito sem definição.
A recomendação para as empresas, no entanto, é de alerta para a necessidade de mensuração do crédito em cima da neutralização. Este fato exigirá conversas muito próximas entre o governo e o mercado privado para que o custo não inviabilize os negócios. “Toda pauta sustentável é inflacionária”, sentencia, reforçando a urgência de união entre as partes nesta etapa de uma construção conjunta para a aplicação da lei.
Diante dos fenômenos climáticos cada vez mais frequentes, é urgente que se racionalize o uso de recursos naturais, como a água, presente em maior ou menor grau em qualquer atividade econômica e que corre riscos a cada desastre ambiental.
Com esse olhar e com a memória de quem vivenciou a seca desde cedo, o nordestino de Mossoró (RN), criado em Cajazeiras (CE), Camillo Torquato (foto), criou a T&D Sustentável, uma greentech do segmento de “Construção Civil e Sustentabilidade” que desenvolve tecnologias e serviços totalmente focados no combate ao desperdício de água, o que inclui materiais educativos e workshops com escolas e comunidades locais.
Com medições, gerenciamento e controles, a empresa já evitou o desperdício equivalente a uma economia superior a R$ 29 milhões para clientes como Rede D’Or, Rede Guanabara, Claro, Unimed, Eleva Educação e multinacionais do setor de óleo e gás.
“O consumo excessivo de água é uma preocupação mundial, mas além disso, ele também afeta o orçamento das empresas”, comenta o CEO da T&D, que faturou R$ 7 milhões em 2024 e projeta R$ 18 milhões neste ano, a partir da expansão em São Paulo, Minas Gerais e Nordeste, através das novas operações em Fortaleza e Recife, previstas ainda para o primeiro semestre.
O advogado Marcello Rodante (foto), especializado em Políticas Públicas e Mudanças do Clima, diz que os eventos extremos como secas prolongadas, enchentes e ondas de calor vêm desorganizando cadeias produtivas, elevando custos operacionais e afetando setores como agricultura, energia e transporte. Relatórios recentes mostram que metade das grandes empresas já registra perdas relacionadas ao clima. “A crise climática deixou de ser um risco futuro para se tornar uma realidade econômica presente”, comenta ele.
Mesmo assim, muitas empresas seguem relutantes em investir de forma consistente em soluções climáticas. O primeiro obstáculo é cultural: ainda predomina a lógica do lucro imediato, o que dificulta a adoção de estratégias de médio e longo prazos. Segundo Marcello, faltam também regras claras, estáveis e coerentes que orientem o setor privado. “A fragmentação regulatória e a multiplicidade de métricas ESG tornam o cenário nebuloso, afastando decisões estruturadas e comprometidas com a mudança”, garante ele.
A seu ver, é preciso diferenciar realidades empresariais. Grandes corporações, com margens expressivas, conseguem avançar em inovação e descarbonização. Já pequenas e médias empresas, pressionadas por custos e falta de apoio, enfrentam uma equação mais desafiadora. “É preciso combinar regulação, incentivos e uma nova consciência genuína empresarial, e esse de longe é o maior desafio”, finaliza.
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