Guilherme Hannud Filho: um empreendedor de sonhos

Por: Gladis Berlato | Em:
Tags:
empreendedor Guilherme Hannud Filho

“Não importa o porte do empreendedor, pequeno ou grande, só terá a ganhar em inúmeros aspectos se enquadrando na agenda ESG”, afirma Guilherme Hannud Filho. (Foto: Divulgação)

De fala fácil e sorriso cativante, Guilherme Hannud Filho transpira amor. Nos exatos 57 minutos de entrevista exclusiva ao Portal TrendsCE, durante sua caminhada na praia de Ubatuba (SP), a palavra “amor” foi dita mais de 30 vezes. Amor pelas pessoas, amor pela família, amor pelo Brasil, amor por tudo.


Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente


Com vasta experiência como empresário e apaixonado por motociclismo, seu currículo inclui atividades de consultor, pesquisador e conferencista. Para este “paulistano de parição, mas nordestino de coração”, empreender não é só obter sucesso financeiro. Empreender é fazer a diferença na vida dos outros. Foi este perfil diferenciado no mundo dos negócios que inspirou o escritor Augusto Cury a transformá-lo em seu personagem no Best Seller e filme “O Vendedor de Sonhos”. No dicionário de Guilherme Hannud Filho, obstáculos, problemas e dificuldades são sinônimos de oportunidades.

Trends: Vamos começar falando quem é Guilherme Hannud Filho?

Guilherme Hannud Filho: Guilherme Hannud Filho é uma criança de 70 anos. Não existe nada mais puro e sincero, desprovido de ego, do que a criança. Quanto mais inteligentes nos tornamos, usamos mais a cabeça do que o coração e esquecemos a pureza. Somos ofuscados pela vaidade, pelo orgulho e pela ganância e perdemos a essência. A vaidade se instala e nos leva à cobrança exacerbada de nós mesmos em busca da perfeição que nunca existiu e nunca existirá. Deus nos criou perfeitamente imperfeitos. Se houvesse alguém perfeito, este alguém se bastaria, não precisaria gostar de ninguém e não precisaria que alguém gostasse dele. Isso implicaria em um mundo sem gosto. São justamente as imperfeições que nos oferecem a oportunidade de gostarmos e sermos gostados.

T: Sua raiz no empreendedorismo começou antes mesmo de seu nascimento e remete à infância do seu avô Salvador. Expurgado da Síria pela guerra, foi para a casa de um tio no México, virando vendedor do armazém dele desde os 12 anos para pagar o quarto que ocupava. O que isto lhe ensinou?

GHF: Com a doença de meu pai, percebi que o esteio da família poderia faltar. Fui em busca de alternativas, criando em mim a sensação de dever a ser cumprido. Aprendi que a gente não vende nada. De fazenda em fazenda, meu avô vendia tudo do armazém do tio dele. E assim foi construindo relacionamentos baseados na confiança. Significa que a gente não vende nada. Não vendemos coisas. A gente transpira confiança e as pessoas compram acolhimento. Estamos a serviço do amor. Se não for assim, só estaremos a serviço de algum interesse, uma regra que vale para a vida pessoal, profissional, pessoal e conjugal. Se não for assim, tudo será desfeito e sobreviverá temporariamente. Eu sou apaixonado pela minha família que é feliz sem criar uma relação de dependência a mim ou a nada. Toda forma de dependência nos cerceia do bem mais precioso que é a liberdade.

T: Como empreendedor nato que já fundou oito empresas de diferentes setores, como você analisa o empreendedorismo tão latente no DNA dos brasileiros? Diante de tantos obstáculos, a tão falada resiliência aguenta?

GHF: Somos empreendedores de amor neste mundo onde os obstáculos e dificuldades viram oportunidades para exercitar o aprendizado.

Guilherme Hannud Filho já fundou oito empresas de diferentes setores. (Foto: Divulgação)

T: Como isto acontece? De onde tirar tanta energia para uma virada do jogo?

GHF: Eu tive o privilégio de viver a época do Milagre Brasileiro, das décadas de 70 e 80, um período de grandes heróis nacionais como Raul Randon, Francisco Stedile, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel e Mário Pereira Lopes, entre outros visionários que souberam empreender e deram lições de sucesso. Também acompanhei o movimento das 60 indústrias que levei para o exterior, desbravando fronteiras e estabelecendo fábricas e redes de distribuição, principalmente nos países mais carentes do mundo como na África Ocidental. Logo depois, nos anos 90, fui para o Sudoeste da Ásia, onde imperava a fome e a exclusão. São mercados que, em função das oportunidades de trabalho, deram a maior lição de superação social e econômica da história da humanidade como os tigres asiáticos.

T: E no Brasil?

GHF: No Brasil do milagre, as empresas souberam aproveitar a acertada política de promoção do desenvolvimento do governo que investiu pesadamente em infraestrutura de transporte hidroviário, ferroviário, rodoviário e marítimo. Foi um governo que sabia da necessidade de se ter hidrelétricas para garantir energia. Também sabia que para dar suporte à jovem indústria nacional precisava de siderúrgicas e que também era necessário ter comunicações eficientes criando a Embratel. Para que estes fenômenos desenvolvimentistas aconteçam é preciso preparação e colocação dos talentos em prática. Isto é empreender. Para mim, a divina trindade é integrada por conhecer, gostar e controlar.

T: E como começou, efetivamente, a sua vida de empreendedor?

GHF: Em 1971, com uma motocicleta Harley Davidson ano 1948 eu aprendi a me deslocar em duas rodas. O entusiasmo por motos virou profissão e me levou a fabricar uma motocicleta na década de 80, capaz de atender a minha necessidade de rodar 60 mil quilômetros por ano visitando as 60 empresas que eu representava e que levei para o exterior. Nascia a moto Amazonas 1600, que se notabilizou no mundo todo. A dificuldade de substituição de peças e de manutenção foi motivação para a criação de oficina especializada, gerando um ciclo virtuoso de negócios.

A Amazonas foi uma gigante brasileira feita com peças de automóveis em um período que a importação não era permitida. (Foto: Reprodução/Internet)

T: E o empreendedorismo social é viável?

GHF: Não há como ficar apenas na contemplação quando se presencia desigualdades enormes diante da miséria espiritual de quem está no topo da pirâmide. O problema vira desafio e oportunidade. Minha experiência em conservação urbanística (questões do verde, ajardinamento, calçamento e pavimento), que de um lado me custou a falência da maior empresa do País, mas por não me enquadrar no sistema, por outro, felizmente, foi positiva. A contrapartida desta tristeza foi semente para criar a associação Recicle a Vida, uma obra de inclusão social modelo que transforma em agentes de limpeza pessoas à margem de qualquer política pública. Nesta associação, as pessoas têm a chance de obter preparação profissional em oito escolas, além de realizar serviços de abastecimentos, recolhimento e reciclagem. Depois de ter sofrido tortura emocional no âmbito do poder em Brasília, tive a oportunidade de aprender mais e a “Recicle a Vida” me salvou e me fez também reciclar minha própria vida.

T: O Brasil tem jeito ou temos que nos contentar em sermos bonito por natureza e o eterno país do futuro?

GHF: Nem isto somos mais. Deixamos de louvar o amor e nos tornamos reféns do ego. Ego da mídia que se corrompe, da política vaidosa, do sistema financeiro que ceifa, do sistema tributário que é o mais pesado do planeta e de uma lei trabalhista de 82 anos. As dificuldades ao empreendedorismo são enormes porque o empreendedor é visto como bandido e o funcionário como um coitadinho, que resulta numa bomba-relógio a cada colaborador admitido. Hoje, as pessoas querem direitos e não obrigações. Somos o país das vantagens. Do padeiro ao grande industrial, todos estão subjugados à cartilha marxista do capital perverso, quando se sabe que se colocar capital na mão de quem sabe produzir a riqueza será multiplicada. Basta ver quantas franquias nasceram a partir da disponibilidade de capital. O capital é abençoado se estiver a serviço do amor.

T: Então qual é a saída?

GHF: Nossa missão neste mundo é administrar nossas virtudes e conduzi-las à prática do bem. Isto, sim, leva o empreendedorismo a eternizar-se no coração das pessoas. Um empreendedorismo que não tem tamanho ou limites, seja o afiador de facas da época antiga, o leiteiro que vinha à nossa porta, a quitanda, o médio e grande empresário ou o indivíduo. O empreendedorismo do amor só depende de ser leal à essência divina. A mudança que o Brasil precisa preconizar não está limitada ao governo. Também não se limita ao poder financeiro. Também não depende de cargos. Na sua humildade, cada ser humano faz a verdadeira força que leva ao progresso.

T: Por que o amor está sempre tão presente na sua fala?

GHF: O maior empreendimento de um ser humano não é o status ou fama. Não é a herança econômica. O maior empreendimento é se eternizar no coração das pessoas. É preciso semear o amor para colher a eternidade. Ter empresa não é ficar mais ou menos rico. É aproveitar a oportunidade de se relacionar com os seres humanos e fazer a diferença. Viemos para aprender na escola da vida, cuja única matéria é amar incondicionalmente. Amar primeiro a gente mesmo porque quem se ama está de bem com a vida sempre e não dá trabalho ou preocupações a ninguém. É amar sem condicionamentos. O contrário é só negociação.

T: Por que tamanho otimismo e trabalho (dois turnos por dia) diante de uma realidade tão difícil que o Brasil e vários países do mundo enfrentam?

GHF: A resposta é simples: a iniciativa privada descobriu que precisa ser muito mais forte do que qualquer governo, por mais eficiente que seja, e assim estabeleceu um conjunto de regras para que as empresas assumam responsabilidades sociais, ambientais e de transparência administrativa ou governança. É a abençoada ESG que está mudando o mundo realmente. Ainda que o empresário possa não ter bom coração ou elevação espiritual, por força do ESG está obrigado a comportar-se como tal, usando o seu poder de influência em favor do ser humano, do meio ambiente e da honestidade. Não importa o porte do empreendedor, pequeno ou grande, só terá a ganhar em inúmeros aspectos se enquadrando na agenda ESG. Me ridicularizavam quando, há 22 anos, decidi me dedicar à questão social e ambiental. Hoje, isto é mandatório. São três letrinhas que estão fazendo a diferença. Ao cuidar das pessoas e dar a elas a oportunidade de agregar valor à economia, elas se tornarão seus clientes. Nada faz tão bem quanto fazer o bem. Experimente.

Saiba mais:

Ceará apresenta novo comitê de negócios para fortalecer empreendedorismo

Empreendedorismo cresce no Ceará com alta de 72,53% na abertura de empresas

Top 5: Mais lidas