Empresa Familiar: um potencial de bons investimentos no Nordeste

Por: Cícero Rocha* | Em:
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Apesar de uma imagem negativa construída no passado como um local de conflitos e de alto risco para investidores, gradativamente e com destaque na última década, a imagem das empresas familiares vem sendo transformada positivamente e de forma mais significativa nos EUA e na Europa, onde o investimento em pesquisa e ciência aplicada é feito de forma intensa, voltada pra auxiliar essas empresas e os investidores, onde o tema é tratado como de alto valor estratégico para o desenvolvimento de uma nação.

Em pesquisa realizada em 2018, pelo Banco Credit Suisse, com mais de 1.000 empresas familiares, avaliando comparativamente a qualidade entre uma empresa familiar e uma não familiar fica evidente a superioridade da qualidade das empresas familiares, inclusive no Brasil.

Interessante também é o comportamento dessas empresas familiares em épocas de crise. São bem diferenciados e positivos com relação as demais do mercado. Na crise de 2008, nos EUA, as empresas familiares foram as que menos recorreram a bancos e com menor nível de corrupção. Um caso clássico nos EUA foi a montadora Ford.

Já na Europa, a Hermès, uma marca de luxo francesa por excelência, mas que por trás da beleza, refinamento e qualidade de seus produtos, a empresa também é financeiramente forte. Em época de crise, o lucro líquido da empresa representou 21,1% das vendas, muito acima da média da indústria de 8,95% e à frente da LVMH (10,5%) e do Grupo Richemont (11,36%). Quais são os pilares do seu sucesso? Para Isabelle Chaboud, professora associada do Departamento de Gerenciamento de Finanças da Grenoble Ecole de Management Professora associado GEM) na França, os quatro principais pontos fortes de Hermès são: uma identidade real, a criatividade e as habilidades de seus artesãos, a inovação e o fato de continuar sendo uma empresa familiar independente.

Nos EUA onde estão sediadas uma boa parte das escolas referência em gestão do mundo, a questão sobre investir em uma empresa familiar já é vista como uma excelente oportunidade de ganhos para os investidores. Nas minhas pesquisas sobre o tema pelo mundo, onde tive com John Wards, professor clínico de empresas familiares na Kellogg School of Management (EUA) e do IMD (Suíça), tido como uma das maiores autoridades do mundo em empresas familiares, em 2015, ao discorrer sobre suas pesquisas já me afirmava: “nas próximas décadas as empresas familiares vão dominar a economia mundial, o capitalismo”.

No Brasil, segundo dados do Sebrae e do IBGE, as empresas familiares geram 65% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregam 75% da força de trabalho, além de representarem 90% dos empreendimentos no Brasil. Com elevada mortalidade e dificuldade de continuidade, 70% não chegam nos filhos, 85% não chegam nos netos.

No Norte e Nordeste, conforme levantamento do Instituto Empresariar, elas representam mais de 95% das empresas e sua mortalidade é mais preocupante que no resto do pais, 20% acima.

Detalhe paradoxal, já que os estudos também apontam que as empresas familiares são as mais rentáveis, mais lucrativas, as que crescem mais rápido e os melhores lugares pra se trabalhar – GPTW.

Segundo a revista Exame, o número de empresas familiares que assumem a posição de liderança de mercado vem crescendo nos últimos anos. O principal motivo para isso é a mudança do modelo de gestão, que permite contornar conflitos internos, criar processos mais dinâmicos e introduzir novas tecnologias com o objetivo de expandir dos negócios.

Mas uma boa notícia sobre esses modelos de gestão e por conseguinte para os investidores, vem do Nordeste, onde a cearense, pesquisadora, professora universitária e Doutora no assunto, Dra. Camilla Carvalho, que se dedica a mais de 10 anos ao tema, desde a sua graduação, dissertação de mestrado e tese de doutorado,  a pesquisar e a responder a seguinte questão: como perpetuar uma empresa familiar no Brasil?

Sua base de pesquisa e projetos aplicados iniciou no Ceará, em seguida no Nordeste e atualmente em todo o Brasil. A sua tese de Doutorado e as experiencias práticas em uma dezenas de empresas brasileiras levam-na a defender que é possível perpetuar tecnicamente uma empresa familiar. Sua defesa é montada a partir de uma metodologia específica, onde aponta que se deve efetivar um balanceamento na empresa, denominado Balanced Family Business – BFB, traduzido como uma empresa familiar balanceada.

O BFB considera simultaneamente e de forma integrada quatro pilares a serem balanceadas: indivíduos chave, família empresária, negócio e sócios.

Em suas pesquisas, as empresas que se mantiveram vivas, com a família harmonizada e elevação do Valor do patrimônio sócios nas próximas gerações, não foram as que priorizaram os negócios ou o patrimônio e sim as que souberam fazer bem a gestão do balanceamento dos quatro pilares.

Os estudos também apresentam que as empresas familiares brasileiras são diferentes uma das outras, e mais ainda, diferentes das americanas e europeias que inspiraram as metodologias que são usualmente aplicadas nas empresas no Brasil, por isso o insucesso elevado aqui, quer por consultorias, escolas de negócios e profissionais. Falta de ciência aplicada as especificidades brasileiras.

Seu método vem sendo acompanhado com otimismo por investidores e universidades no Brasil e mais recentemente da Europa. Recentemente o BFB foi pauta de estudo em um dos maiores eventos de administração do Brasil, SemeAD de 2019, promovido pela USP, bem como na Europa no ICABM, patrocinado pelo Europeaun Jornal of Applied Business and Manejement (EJABM).

Para a Pesquisadora Pós-Doutora Oderlene Oliveira e orientadora do Doutorado de Administração da Universidade de Fortaleza, que assina alguns artigos científicos sobre o BFB, esse método tem muito a contribuir com a qualidade da gestão das empresas familiares.

Outra profissional que se destaca no segmento das empresas familiares e tem vivenciado o uso do método BFB é a baiana, especialista em empresas familiares Vanuza Ferraz, terapeuta, psicóloga, especialista em cuidar de fundadores, fundadoras e pessoas chaves nas empresas familiares nordestinas, onde também vem pesquisando e aplicando o BFB.

Vanuza afirma: “o que mais tem gerado êxito no método BFB e diferenciado de outros já apresentados por outras escolas que tenho estudado e tentado aplicar – Harvard com o famoso modelo de três ciclos dos professores John Davis-, é que o método da Dra. Camilla conseguiu mapear e trazer de forma clara, técnica e na prática um subsistema até então pouco estudado, subestimado e ignorado. Acrescenta a psicóloga: “um ponto extremamente importante pra que eu, como profissional do comportamento humano consiga fazer as interrelações entre as pessoas, família empresária, negócios e sócios”.

Indagamos a Dra. Camilla Carvalho se poderia nominar alguns exemplos exitosos da efetividade do seu método na atratividade de investidores para uma empresa familiar Nordestina. Ela destacou como exemplo os seguintes cases:  

IBACEM (PE) – segmento agronegócio, distribuição, tecnologia, imobiliário e indústria de alimentos. O BFB auxiliou com consolidação da sucessão da segunda geração de irmãos, atualmente já liderando todo o processo de gestão dos negócios, uma governança familiar efetiva, e elevação da governança do negócio e do nível de padrão de desempenho a padrões internacionais.

AGRIVALE (PE) e (AL) – segmento agronegócio, distribuição, imobiliário. Houve a profissionalização da família, implantação de um modelo de gestão competitivo e sucessão patrimonial com a morte do fundador.

Grupo Progresso (BA), segmento fazenda de hortifruti, vinícola e hotelaria – empresa multifamiliar de quatro irmãos gaúchos, onde a terceira geração vem desenvolvendo um portfólio de inovação de novos produtos e negócios, que deverá quintuplicar o patrimônio da família empresária em 10 anos.

Makro Engenharia (CE) – Aluguel de máquinas, transporte, energia – Houve o amadurecimento do processo de sucessão entre irmãos, família e sócios, com ganhos significativos na evolução do valor da empresa, maturidade da performance, ampliação da diversificação estratégica dos negócios. Frequentemente procurada para fusões pelo elevado nível de qualidade de gestão do negócio por parte da família.

Grupo Cialne (CE) – Agronegócio, indústria de alimentos – nos últimos dois anos com a participação e aval do fundador, realizou-se a reorganização da  governança da família e da empresa, estabilidade na sucessão dos sócios e herdeiros na gestão, gerando em menos de dois anos uma revolução positiva e significativa na performance da companhia e no patrimonial dos sócios.

DAG (CE) – Empresa referência no segmento de distribuição no Brasil,  liderada por dois irmãos, já iniciando a dois anos de forma estruturada e planejada a formação da familia empresaria e a nova geração dos filhos.

BRISANET (CE) – sediada no interior do Ceará, multifamiliar com a presença de tios e sobrinhos na gestão, consolidando um modelo de gestão e governança pra suportar a velocidade de crescimento da empresa, sem perder as características do DNA da família empresaria.

AVINE (CE) – agronegócio e industria de alimentos – é uma referencia nacional quando se fala em governança de empresas familiares, pois já vem no processo a mais de 5 anos e os resultados são marcantes, como: a consolidação da presença do Pai na gestão da governança – Presidente do Conselho de ADM – o filho mais novo a três anos como CEO do Grupo, as filhas como diretora e outra com a mãe no Conselho de sócios. Nível de governança  de padrão diferenciado – família harmonizada, elevação do patrimônio dos sócios, empresa efetiva, compliance, auditoria, implantação de executivos do mercado de fora da família e mais recentemente a formação da nova geração – netos de 6 a 30 anos. Premiada por vários anos nacionalmente pelas revistas do segmento pelo elevado nível dos fundamentos de gestão.

Algumas empresa familiares cearenses tem se destacado no mercado nacional pela atração de investidores, em especial as de maior porte, como ocorreu com a Betânia, Hapvida, Pague Menos, Três Corações e entre outras outras.

Segundo pesquisa global da PwC (Price Water House Cooper) de 2018, as famílias têm boas perspectivas para o futuro de suas empresas, sendo que 69,2% afirmam ter intenção de expandir o negócio atual. Somente 6,8% pensam em sair do negócio.

Existe um verdadeiro oceano de oportunidades de investimento nas pequenas e médias empresas familiares cearenses e nordestinas, mas que para ser bem aproveitado vai precisar de movimento tanto por parte dos investidores, como também uma “lição de casa”  na modernização dos modelos de gestão dessas empresas, conforme já apontado pelos especialistas.

* Mestrado em Administração pela UFC e Especialização pela Babson Business School (EUA), professor convidado de Governança Corporativa em Empresas Familiares (Unifor e Wharton Business School). Fundador e atual presidente do Instituto Empresariar

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