Se a bolsa de valores funciona como uma espécie de “termômetro” da conjuntura econômica, a notícia da Oferta Pública Inicial (IPO) da Aeris Energy na B3 pode ser considerada excelente para o Ceará, especialmente por um motivo: a diversificação de setores já atuando com capital aberto. Com a entrada da fabricante de pás eólicas, sua oitava representante no mercado de capitais, o Estado confirma sua intenção de tornar sua indústria cada vez mais forte e voltada para o futuro, de acordo com o presidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Eduardo Neves.
“Acho isso um excelente sinal, porque a gente sai (da visão) de um empresariado, digamos, mais conservador para um mais moderno, mais progressista, de olho no que o mundo já vem fazendo há muito tempo. A cultura de utilização de bolsa de valores no Brasil não era das mais difundidas, principalmente no Ceará. E a gente vê esse crescimento com muita satisfação, pois isso mostra que dá espaço a uma indústria pujante, robusta e progressista. E só com irrigação e entrada de recursos dessa forma que ela pode ser alavancada e continuar se desenvolvendo”, comenta.
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Agora, a companhia com duas unidades fabris no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em Caucaia, se junta a Grendene, Enel, M. Dias Branco, Hapvida, Arco Educação, Banco do Nordeste e Pague Menos entre as organizações cearenses – ou com sede no Estado – integrantes dessa modalidade de atração de investimentos. Nesse rol já há empresas privadas e públicas, do varejo e da indústria e integrantes de setores diversos, o que, conforme Neves, faz parte de um caminho natural. “Toda empresa precisa se capitalizar. No ramo de energias renováveis, os investimentos são altíssimos. Então, a empresa precisa estar capitalizada, senão está fora do mercado. Tanto é que os grandes players são poucos no mundo. A forma mais saudável é essa”, observa.
Empresas cearenses no mercado de capitais: governança, audácia, solidez
Para Neves, a entrada de integrantes da indústria nessa relação solidifica uma composição de ações complementares com outros setores, gerando uma boa indicação para o futuro da economia local.
Obviamente que a entrada de uma indústria na bolsa tem impacto muito positivo na economia, de uma forma mais forte, mas o varejo, principalmente agora com o e-commerce, tem crescido bastante. São coisas diferentes, mas que rumam para o mesmo lado, que é o que a gente busca para o Estado: emprego e renda. Os dois andam juntos, não tem como demandar indústria sem o atacado, sem o varejo ou o comércio na ponta. Têm que trabalhar junto. Mas agora a indústria de fato é a grande produtora de renda.
Eduardo Neves, presidente da Adece
Desenvolvimento
Fundada há apenas dez anos, com um quadro de aproximadamente 5,5 mil funcionários e tendo o empresário Alexandre Funari Negrão como seu acionista majoritário (70,29% dos papéis), a Aeris Energy é uma das maiores fabricantes de pás para aerogeradores de energia eólica do planeta, já detendo 69% da produção nacional e sendo uma das maiores exportadoras do mundo. Sua receita apenas no primeiro semestre de 2020 ultrapassou a marca dos R$ 800 milhões, com crescimento anual de 137,3% registrado. Em 2019 já havia apresentado desempenho 26,5% melhor que em 2018. Segundo a Eleven Financial, casa de análises independente voltada para o mercado de ações, a companhia se destaca pela boa capacidade de executar pedidos dos clientes com qualidade e eficiência operacional, sempre dentro do prazo contratado.
Com essas características despontando, o momento configura-se dos mais favoráveis para a captação de recursos junto ao mercado e a pulverização de suas ações por intermédio de um IPO. O passo seguinte seria um reinvestimento posterior, com ampliação das operações resultando em novas fábricas e, na sequência, novos postos de trabalho abertos. Apenas em 2019, foram contratados 1.949 novos funcionários -, algo que tem tudo para ser extremamente positivo para o desenvolvimento do Estado.
Tais números se refletem em ganhos relevantes para o entorno. Ganham os fornecedores, que passam a qualificar suas operações para atender as necessidades da empresa, e ganham especialmente as pessoas físicas. Conforme o Relatório Anual de Sustentabilidade da Aeris Energy, no ano passado, foram pagos aproximadamente R$ 160 milhões em salários e benefícios, grande parte para moradores da região de Caucaia, que tem experimentado um desenvolvimento econômico sustentável nos últimos cinco anos.
Números que também animam o presidente da Adece. “Tive a oportunidade de testemunhar isso desde o nascedouro da empresa, quando veio para cá, e depois com o próprio trabalho do Governo do Estado em atrair os elos faltantes da cadeia produtiva das energias renováveis. Isso deu à Aeris uma boa oportunidade para ampliar sua atuação. Hoje, presta serviço para a Vestas e para outras companhias que aqui vêm instalar parques eólicos. Agora, com seu IPO, nos dá uma boa expectativa. O que tem acontecido historicamente é que, enquanto cresce, ela tem reinvestido no Ceará, e a gente espera que isso continue a acontecer”, projeta Neves.