Tudo começou ainda nos anos 1990, com a ideia das cidades digitais. Afinal, grande parte da tecnologia envolvida por trás das cidades inteligentes está ligada às Tecnologias da Informação e Comunicação, as chamadas TICs. Porém, passadas quase três décadas, e apesar de todos os avanços, o conceito de cidades inteligentes ainda permanece em construção. Segundo […]

Cidades inteligentes: tecnologias a favor da qualidade de vida

Por: Anchieta Dantas Jr. | Em:
Tags:

Tudo começou ainda nos anos 1990, com a ideia das cidades digitais. Afinal, grande parte da tecnologia envolvida por trás das cidades inteligentes está ligada às Tecnologias da Informação e Comunicação, as chamadas TICs. Porém, passadas quase três décadas, e apesar de todos os avanços, o conceito de cidades inteligentes ainda permanece em construção. Segundo o professor efetivo do Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE) e presidente da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), Cláudio Ricardo Gomes de Lima, cidades inteligentes são bem mais abrangentes. Ultrapassam a questão tecnológica. “Vivemos uma nova arquitetura social”, preconiza.


Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.


“Não é só tecnologia. Esta é apenas um caminho, um meio. O mais importante aí são as pessoas. Conectar pessoas, coisas e instituições. Assim, princípios como compartilhar, colaborar, criar, coordenar e coletar são fundamentais nessa nova arquitetura. Isso vai exigir de nós, enquanto cidadãos, habilidades como pragmatismo, agilidade, interatividade e capacidade de experimentar, errando o mais cedo possível e deixando de lado o que não faz sentido. Tudo isso faz parte do aprendizado pedagógico desse processo”, justifica o professor.

Dessa forma, ele ressalta que as cidades inteligentes também precisam levar em conta as novas economias: criativa, compartilhada e circular. “Estas economias são mandatórias nos novos tempos. Precisamos atuar de forma integrada, em rede. A economia circular, por exemplo, surge como um pilar da sustentabilidade, ou seja, o que é rejeito para um passa a ser insumo para outro e assim se otimiza o uso dos recursos. As cidades criativas, abertas à inovação, são o que vai mover o mundo”, analisa o professor.

Segundo ele, isso se trata de mais um reforço que leva à abordagem de que apesar do uso da tecnologia, as cidades inteligentes devem estar centradas no cidadão e, sobretudo, em um compromisso com a qualidade de vida das pessoas.

“Nesse contexto, entendemos como cidade inteligente uma cidade que seja segura, inclusiva, com mobilidade urbana e uma cidade conectada. Aliás, conexão é a palavra de ordem nessa nova arquitetura social”

Cláudio Ricardo Gomes de Lima, presidente da Citinova e professor do IFCE

Com o advento da pandemia do novo coronavírus, a constatação de que o mundo é digital ficou ainda mais evidente. “Esse é um processo sem volta. Cerca de 56% da população mundial está conectada. Mais de cinco bilhões de pessoas no mundo usam dispositivos móveis. A internet tem mais de quatro bilhões de usuários e mais de três bilhões destas pessoas estão ativas nas mídias sociais. Então, tudo isso confirma que o mundo é digital”, fala.

Conectividade como política pública

De modo que, aponta o professor, a universalização do acesso à internet deve ser vista como um política pública. “Hoje em dia, um dos fatores que mais impacta na redução das desigualdades é o acesso à internet. É uma questão de lógica. Se a tecnologia preside os processos econômicos, ela deve incluir as pessoas, para não aprofundar ainda mais as desigualdades. Hoje, inclusão digital tem uma ligação direta com a inclusão social”, afirma.

Razão pela qual, frisa Gomes de Lima, no contexto das cidades inteligentes, todas as ações que emanam do poder público devem estar centradas nas pessoas. “E, como vemos, as informações são importantes para o cidadão, para a definição das políticas públicas, para a prestação de serviços públicos digitais”.

Para o professor, com a conectividade, o teletrabalho veio para ficar. Ao mesmo tempo que a participação cidadã, por meio de partidos políticos, por exemplo, também é algo que já existe no modelo digital. “No mundo já existem partidos digitais, conectando pessoas em torno de um propósito”, revela. Porém, é preciso estabelecer regras. Conforme disse, faz-se necessário, neste momento, discutir o processo de digitalização da sociedade. “Regular, por exemplo, as relação de trabalho, de acesso aos dados, a transparência das decisões e assim por diante”, afirma.

Desafio da concentração urbana

De acordo com Gomes de Lima, quando o assunto é concentração urbana, fenômeno que se apresenta de forma crescente nos últimos anos, a discussão em torno das cidades digitais se torna ainda mais importante. “Existe uma estimativa de que nos próximos 40 anos, o mundo terá nove bilhões de pessoas, a grande maioria vivendo em centros urbanos. Hoje, aproximadamente 55% população mundial já vive em áreas urbanas. No Brasil, essa taxa é de 90%”, afirma.

Ele afirma que esse fenômeno tem sido intensificado pelo processos migratórios. “Entre os anos de 2015 e 2020, a migração mundial contabilizou mais de 370 mil pessoas por dia, incluindo tanto a movimentação doméstica como entre países. Do ponto de vista espacial, percebe-se esse fenômeno em algumas cidades globais. As chamadas megalópoles, receberam uma quantidade enorme de pessoas”, destaca. Conforme disse, cidades como Shingezeg, na China, recebe cerca de 15 pessoas por hora. São Paulo capital, por sua vez, aumenta a sua população em torno de dez pessoas por hora. Nova Delhi, na Índia, chega à marca de receber 79 pessoas por hora.

“Isso tem vantagens e desafios. A vantagem é o empoderamento das cidades. Porém, na outra ponta, os desafios surgem, especialmente, quando se trata de políticas públicas. Não é fácil prover serviços públicos para uma concentração crescente de pessoas em uma área relativamente pequena. As demandas são crescentes. Por isso, é preciso inovar, modernizar a gestão, fazer cada vez mais com menos”

Cláudio Ricardo Gomes de Lima, presidente da Citinova e professor do IFCE

Ele ainda alerta sobre o desafio do desenvolvimento sustentável: a necessidade de lidar com a questão do consumo e a consequente geração de lixo, assim como a demanda cada vez maior por água potável e energia limpa. “Esses são grandes desafios para os gestores públicos. Além do que, as pessoas não querem mudar de cidade. As pessoas querem uma cidade melhor para viver. De modo que esse é o desafio que está posto e a tecnologia pode ser efetivamente um grande mitigador desse processo. Evidentemente, ela não é um fim em si mesma. A gente tem que perceber, por esse motivo, que o centro são as pessoas”, conclui.

Fortaleza no caminho das cidades inteligentes

Segundo o professor Gomes de Lima, Fortaleza tem avançado muito nos últimos anos na direção de uma cidade inteligente. Na sua avaliação, a capital cearense tem apresentando bom desenvolvimento no modelo urbano que se utiliza da inovação e da sustentabilidade para proporcionar bem-estar à população. “No caso de Fortaleza, podemos citar a modernizando da gestão do Município. A própria criação da Citinova foi uma grande contribuição para a cidade. Poucas capitais no Brasil tem um órgão voltado para a Ciência, Tecnologia e Inovação a nível de secretaria para liderar políticas públicas nessa área”, destaca.

De acordo com ele, o Programa Fortaleza Digital tem hoje cerca de 200 serviços integrados, possibilitando a desburocratização e a promoção do ambiente de negócios da cidade. “Conseguimos abrir uma empresa em poucas horas, sem papel, tudo digitalmente. Ao mesmo tempo, temos vários serviços setoriais digitalizados na Prefeitura de Fortaleza. Na educação, por exemplo, contamos com a matrícula online, assim como o acesso digital dos pais aos boletins dos filhos. Ao passo que muitos aplicativos circulam pela cidade, trazendo benefícios para a população, como é o caso do ‘Meu Ônibus’ e ainda do ‘Mais Saúde’, que usa Inteligência Artificial. Estes são alguns exemplos de como a tecnologia pode ser usada para facilitar a vida do cidadão”, expõe.

Conjunto de ações que fez com que Fortaleza desse um salto no ranking da Conect Smart Cities. Este estudo, elaborado pela Urban Systems, em parceria com a Necta, mapeia todos os 673 municípios com mais de 50 mil habitantes, com o objetivo de definir as cidades com maior potencial de desenvolvimento do Brasil. Dentre as 100 cidades mais inteligentes do Brasil, a capital cearense saltou da 72ª para a 29ª posição.

“E deve continuar avançando. Até porque, observamos na cidade uma forte tendência para a inovação e a criatividade. Aliás, algo nato do cearense. No âmbito da gestão estadual, consideramos os avanços promovidos por meio do Programa Cientista Chefe, a criação de institutos de tecnologia e educação e, ainda, a formação de grupos dentro das universidades a fim de discutir a Inteligência Artificial”

Cláudio Ricardo Gomes de Lima, presidente da Citinova e professor do IFCE

Para trazer toda essa tecnologia para todos, transformá-la em uma melhor experiência para o cidadão, é preciso tornar a conectividade acessível à população através das políticas públicas. O Conselheiro da AVBR. Tecnologia, Análio Rodrigues, traz à tona o conceito de “Chics” – cidades, humanas, criativas e sustentáveis. O termo é fruto de diversos estudos e do acompanhamento do que vem sendo feito na Europa, América do Norte e Ásia – locais que possuem diversas cidades que são referência em cidades inteligentes.

“Nesse sentido trabalha-se sete grandes grande áreas como governança inteligente, pessoas inteligentes, ambientes inteligentes, mobilidade inteligente, vida inteligente, economia inteligente e financiamento inteligente”

Análio Rodrigues, Conselheiro da AVBR. Tecnologia

A perspectiva sobre esse novo modelo de cidade foi apresentada durante o painel Cidades Inteligentes, realizado como parte da segunda edição da Escola de Verão, evento voltado para a troca de conhecimento e experiências em Inteligência Artificial, com a proposta de aproximar governo, academia e mercado em uma promoção do Instituto Iracema Digital em parceria com o Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitece) e da Sedet, assim como da Fecomércio e do Hub Cumbuco.

A segunda edição da Escola de Verão ocorreu entre os dias 29 e 30 de janeiro de 2021, transmitida pelo YouTube em quatro salas localizadas virtualmente no litoral do Ceará.

Quer ter acesso ao conteúdo multimídia deste assunto? 

  • Ouça aqui o Inova Ceará. O podcast voltado para a troca de conhecimento e experiências em Ecossistemas de Inovação no Ceará.
  • Assista aos melhores momentos dessa conversa.

Acompanhe outras publicações desta série

  • Conteúdo Especial – Ecossistema de Inovação do Ceará

Projeto Bora pra China visa fortalecer cooperação entre Ceará e país asiático

A tradução dos conteúdos é realizada automaticamente pelo Gtranslate.

Top 5: Mais lidas