A crise provocada pelo novo coronavírus desafiou a economia do mundo inteiro. No Ceará, o setor de eventos, por exemplo, foi bastante fragilizado com a paralisação das suas atividades e prevê um prejuízo de R$ 173,9 milhões no Estado. Segundo Circe Jane Teles, presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Estado […]

Vacinação: quais os impactos para a economia do Ceará?

Por: Maria Babini | Em:
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A crise provocada pelo novo coronavírus desafiou a economia do mundo inteiro. No Ceará, o setor de eventos, por exemplo, foi bastante fragilizado com a paralisação das suas atividades e prevê um prejuízo de R$ 173,9 milhões no Estado. Segundo Circe Jane Teles, presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Estado do Ceará (Sindieventos CE), “as empresas do segmento seguraram os funcionários enquanto podiam, mas muitas tiveram que demitir porque não havia salário, como as montadoras de estrutura de estandes, pois não tivemos eventos presenciais durante muito tempo”. Em 2020, o setor paralisou as atividades a partir de março e, desde então, tem vivenciado uma lenta retomada econômica. Mas a chegada dos primeiros lotes de CoronaVac em solo cearense, na última segunda-feira (18), pode auxiliar a melhorar esse quadro.

“Sabemos que, com a vacinação, vai ser o grande momento da gente cobrar melhor o retorno das atividades dos eventos. Sem isso, a gente já viu que vai ser muito difícil retomar pelo menos 50% neste primeiro semestre. Sem uma vacinação, seria quase 100%”

Circe Janes Teles, presidente do Sindieventos Ceará

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Outros setores, como a construção civil, tiveram melhor desempenho no ano passado, apesar dos contratempos provocados pelo novo coronavírus. De janeiro a outubro de 2020, o Ceará gerou mais de 6.700 empregos no mercado de trabalho formal do segmento, de acordo com os dados do Novo Caged relativos a outubro/20, divulgados pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a previsão de crescimento para 2021 é de 4%, após o recuo de 2,8% em 2020. Beto Studart, empresário e presidente da BSPar, também aponta que o ritmo do setor na economia cearense caiu no primeiro momento, mas trouxe uma queda menor do que a imaginada. E, com a vacinação, as chances de crescimento tendem a se fortalecer. Studart acrescenta que, apesar de ter passado por um processo cansativo, considera a gestão para a área, tanto do governador Camilo Santana como do titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, “magnífica, responsável e exemplar para o Brasil”.

“Compreendi que a economia estava voltando com mais força em outubro e novembro. Com o início da aplicação da vacina, eu tenho a convicção que logo conseguiremos voltar à normalidade. O ritmo de retorno para a retomada da economia acho que agora está mais próximo do que imaginamos nesse passado recente. Estou esperançoso. Logo estaremos vivendo um outro momento mundial”

Beto Studart, empresário e presidente da BSPar

Impacto da vacina

Para Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e assessor econômico da (Fiec), a recuperação da economia depende totalmente da população estar imunizada, inclusive no Ceará. “Só com a população imunizada conseguiremos fazer com que a economia volte a girar normalmente. E, para que isso aconteça, precisamos de duas coisas: primeiro, que a vacinação seja universalizada por toda a sociedade. E, segundo, que as vacinas usadas proporcionem essa imunização desejada”, ele avalia.

Segundo Carlile Lavor, médico e coordenador geral da Fiocruz Ceará, o número de vacinas ainda é muito pequeno: atenderá inicialmente 1% da população brasileira. “O impacto inicial é para os profissionais de saúde que estão atendendo diretamente aos doentes, trazendo segurança para eles. Importante também, nos municípios, vacinar os Agentes Comunitários de Saúde, que poderão realizar o seu trabalho educativo casa a casa, trazendo um grande impacto para reduzir a transmissão do vírus no seio das famílias”, ele completa.

“Para termos uma ideia de números, as quatros fases do plano de vacinação, até o presente momento, irão contemplar 733.126 pessoas. Por que eu digo ‘até o presente momento’? Porque, de acordo com critérios epidemiológicos, o Ministério da Saúde poderá inserir a qualquer momento novos grupos prioritários. Recebemos 40 mil doses para iniciar a primeira dose da vacinação em Fortaleza. Uma vez que qualquer vacinação, até agora, será feita em duas doses, estaremos contemplando nesse primeiro momento 40 mil pessoas. Como trabalhadores da área da saúde, nós temos mais de 109 mil profissionais cadastrados. Por isso, juntamente com Governo do Estado do Ceará e com orientações do Ministério da Saúde, estamos vacinando logo as pessoas que estão trabalhando na linha de frente. Ou seja, locais que fazem atendimento para Covid-19. Assim também como idosos que estão institucionalizados”, conta Aline Gouveia, secretária adjunta da Saúde em Fortaleza.

Vacinação e retomada da economia

O secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Maia Júnior, credita a importância da vacina às orientações dadas por cientistas do mundo inteiro, que a colocam como único meio de neutralizar o coronavírus. “A pandemia trouxe um impacto muito grande na economia do Estado, na questão fiscal, porque exige mais investimento em saúde do que o normalmente feito. Um impacto muito forte na renda pela perda de postos de trabalho. O importante, nesse momento, é que a vacina pode neutralizar caminhos mais dolorosos do ponto de vista de um possível isolamento social nas dimensões que tivemos no passado. Ela vai possibilitar manter a economia funcionando normalmente. Além da melhoria fiscal que o Estado brasileiro, e o Ceará também, poderá ter nas suas finanças, melhoria do processo de arrecadação, melhoria da percepção do mercado, até baixando custos na saúde. A economia não terá esse impacto negativo como no ano passado”, ele explica.

Expectativas

Em dezembro de 2020, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) apresentou dados com previsão de crescimento do PIB estadual em 3,70% em 2021. Essa projeção é maior do que a da economia brasileira, que deve ter taxa de 3,50%. Os destaques da publicação evidenciaram também que o setor da construção civil continua sendo um forte candidato para a ampliação de empregos formais nos primeiros meses de 2021, assim como nos últimos meses do ano anterior.

Além disso, o Ipece aponta que segmentos como eventos e turismo poderão ter melhor desempenho a partir da vacinação em massa contra o coronavírus. Para Maia Júnior, secretário da Sedet, desde que a imunização comece a avançar, poderemos ter o início da recuperação econômica de forma mais efetiva.

“Se não tivermos mais novos picos de pandemia, com necessidade de fechar a economia, admitindo que não será necessário nenhum tipo de paralisação das atividades, já vamos fechar esse ano com algum crescimento. Não o suficiente para recuperar a perda de 2020, mas já devemos estar numa trajetória de alta”

Maia Júnior, secretário da Sedet

Carlile Lavor aponta que o sucesso da vacinação trará o retorno à vida normal que tínhamos antes da pandemia. Mas, para isso, há necessidade de um número grande de pessoas vacinadas, o que provavelmente deve ser alcançado no segundo semestre de 2021.

“As duas vacinas mais adiantadas no Brasil, a serem produzidas pela Fiocruz e pelo Butantan, dependem da importação de insumos da Índia e da China. Se os contratos com estes países, especialmente com a China, forem cumpridos, teremos, até ao final do ano, grande parte da população brasileira vacinada, com um controle muito importante da pandemia. As nossas duas instituições produtoras de vacinas, centenárias, terão condições de atender nesse prazo, mas ainda dependem da importação de insumos daqueles países”

Carlile Lavor, médico e coordenador geral da Fiocruz Ceará

Lauro Chaves Neto acredita que, no momento, as autoridades devem dirigir os esforços para a produção da vacina, para que seja possível cumprir a previsão de imunizar, no mínimo, 70% da população.

“Vivemos em um país que tem 210 milhões de habitantes, aproximadamente. Se cada pessoa precisa de duas doses, estamos falando de quase 420 milhões de doses a serem aplicadas. Então, temos que ter tempo para produzir essa quantidade nova e precisamos de uma logística de aplicação da vacina. Reduzindo a possibilidade de infecção, a gente poderá manter a normalidade do funcionamento da economia”

Lauro Chaves Neto, conselheiro do Cofecon e assessor econômico da Fiec

A secretária adjunta da Saúde, Aline Gouveia, acredita que a vacinação representa uma grande esperança de superação da pandemia. “Quando atingirmos a meta, o que mudará é que vamos conseguir interromper a circulação do vírus da Covid-19 e reduzir a mortalidade”, avalia. Para ela, isso trará para a população uma situação mais próxima do normal. “Mas o normal mesmo só teremos quando for decretado o fim da pandemia”, ressalta. Aline ainda alerta, inclusive, sobre a importância de continuar seguindo medidas de segurança contra o novo coronavírus mesmo após a vacinação, como o uso da máscara e distanciamento social, além dos cuidados de higiene pessoal com as mãos.

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